A CADA MANHÃ

A CADA MANHÃ

As Lamentações de Jeremias retratam a grande tristeza de Judá após a invasão da Babilônia, em 586 A.C. A ação impiedosa do invasor arruinou sobremaneira Jerusalém, cidade da qual o profeta disse: “Como está sentada solitária aquela cidade, antes tão populosa! Tornou-se como viúva, a que era grande entre as nações! A que era princesa entre as províncias, tornou-se tributária! Chora amargamente de noite, e as suas lágrimas lhe correm pelas faces; não tem quem a console entre todos os seus amantes; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela, tornaram-se seus inimigos” (LM. 1:1,2).

O profeta refutou as queixas que se avolumavam contra Deus num contexto de destruição e medo, relembrando os seus ouvintes da justiça divina e dos pecados cometidos por eles: “Jerusalém gravemente pecou, por isso se fez errante; todos os que a honravam, a desprezaram, porque viram a sua nudez; ela também suspira e volta para trás” (LM. 1:8). A ira de Deus, que é uma justa e santa reprovação ao pecado, não foi anunciada pelos falsos profetas, acerca dos quais falou Jeremias: “Os teus profetas viram para ti vaidade e loucura, e não manifestaram a tua maldade, para impedirem o teu cativeiro; mas viram para ti cargas vãs e motivos de expulsão” (LM. 2:14). Ainda assim, segundo Jeremias, o castigo permitido por Deus seria passageiro como a noite. Uma nova manhã nasceria para Jerusalém.

No capítulo 3, versículo 21, encontra-se o ponto fulcral do livro das Lamentações. As misericórdias do Senhor sobre Jerusalém no passado, tornaram-se a fundamentação das expectativas de Jeremias naqueles dias. Deus não havia mudado e não se tornara infiel à aliança feita com Abraão, Isaque e Jacó. Apesar da infidelidade do seu povo, Deus excedera em misericórdia no relacionamento com seus filhos. Ele é o Deus que, a cada manhã, enviava o maná ao seu povo no deserto, mesmo quando a incredulidade e a rebeldia acompanhavam esse povo. Esse Deus de ontem é o Deus de hoje, e assim Ele será eternamente misericordioso.

A benignidade, ou misericórdia do Senhor, mencionada em LAMENTAÇÕES 3:22, são duas possíveis traduções da palavra hebraica hesed. Essa palavra pode ser traduzida também como “amor que não se acaba”, visto que está amparado na aliança firmada entre Deus e seu povo. Por conhecer a grande fidelidade do Senhor, Jeremias falou de misericórdias que renovam-se a cada manhã. Deus é Aquele “que guarda a beneficência (hesed) em milhares” (ÊXODO. 34:7) Semelhantemente, o salmista declarou: “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida” (SALMOS 23:6).

A cada manhã, Deus nos dá a oportunidade de recomeçar. Porque as suas misericórdias não têm fim, a cada manhã o casamento desgastado pode ser revigorado pelo amor que une os cônjuges. As enfermidades do corpo e da alma podem ser remediadas a cada nova manhã. As dificuldades financeiras podem ser enfrentadas com ânimo renovado a cada manhã. O Espírito Santo nos capacita a buscarmos renovação espiritual a cada nova manhã do nosso viver. Graças a Deus, cada noite é sucedida por uma manhã, lembrando-nos, a partir da ordem estabelecida por Deus na criação, que sempre temos oportunidade de experimentar novidade de vida.

Ainda que o sol não brilhe hoje com a intensidade esperada por você, e mesmo que a sua noite pareça não ter fim, saiba que a manhã sempre vem!

Pr. Tarcísio Farias Guimarães

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