O GELO DA INDIFERENÇA

Aconteceu em Paris no dia 19 de janeiro de 2022, mas a mesma cena pode ser vista por todo o mundo há muito tempo. O renomado fotógrafo suíço René Robert morreu de frio após sofrer uma queda e permanecer jogado ao chão por horas, sem qualquer assistência de quem passava pela rua do valorizado bairro Praça da República. Todo ano, aproximadamente 500 pessoas morrem nas ruas da França, inclusive de frio, mas não se vê todo dia um idoso famoso morto nesta condição. Depois de ter ficado boa parte da noite e toda a madrugada desmaiado e exposto ao frio, foi percebido por uma pessoa sem teto que chamou a ambulância para socorrê-lo. Até a demonstração de interesse de um transeunte, muita gente passou pelo homem caído e desconsiderou aquilo que estava acontecendo. O gelo da indiferença causou a morte de mais uma pessoa.
Sabemos que muitas pessoas vivem nas ruas, algumas das quais porque rejeitam a família, as ofertas de trabalho e o auxílio governamental. Mas, não é aceitável considerar que alguém esteja caído em uma rua gelada, e sem qualquer movimento, porque quis ficar assim. Não é comum encontrar um homem idoso e bem vestido caído em uma valorizada rua francesa. Não é possível justificarmos a indiferença crescente do homem com o próprio homem. Os cristãos não devem se acostumar com o estado de coisas frio, insensível, desatento que marca o nosso tempo.
Jesus apresenta a parábola do bom samaritano como denúncia da frieza que tem marcado os relacionamentos interpessoais desde a queda. Nem mesmo a urgência do serviço religioso é justificativa para a indiferença do homem crente com aquele que está caído. Quem ama a Deus, ama o próximo criado por Deus (LUCAS 10:27,28) e o trata com misericórdia. A ordem de Jesus, que aplica a parábola ao ouvinte, é atual: “Vai e procede tu de igual modo” (LUCAS 10:37).
Não sejamos permissivos com a hipotermia do coração. Tratemos a pandemia da indiferença com temor a Deus, obediência aos mandamentos da Palavra, amor transbordante e serviço abnegado. O mundo “aguarda a revelação dos filhos de Deus” (ROMANOS 8:19) nesta era de indiferença glacial.

Pr. Tarcísio F. Guimarães