Pessoas em estado grave sem acesso a um leito de hospital. Pais de família desempregados sem conseguirem um sustento digno. Pessoas com severos problemas psicológicos em decorrência do isolamento prolongado, sobretudo idosos. Diante do agravamento da Pandemia do Coronavírus, a solidariedade deve ocupar o topo da lista de prioridades tanto no coração quanto na agenda. Mas a solidariedade exigida por este triste cenário não pode limitar-se à mera reação emocional; deve ser uma disciplina diária.
A solidariedade implica em responsabilidade com o semelhante; é a demonstração de amor ou compaixão pelos necessitados através de ajuda moral ou material. O pensador romano Terêncio (163 a.C.) defendia que o simples fato de sermos humanos nos impõe a consideração pela condição do outro: “Sou humano, nada do que é humano me é estranho”. O filósofo judeu Martin Buber ressalta que “o outro (o próximo) não é um isto, mas um tu”, ou seja, nosso semelhante não é uma coisa, mas uma pessoa.
Para a Bíblia, a origem da solidariedade está no próprio Deus que se oferece à humanidade na pessoa do seu Filho, Jesus Cristo. Pensando biblicamente, não podemos esperar que solidariedade seja um sentimento espontâneo nem se restrinja ao ativismo digital, como se tornou comum durante a pandemia. A atitude da pessoa solidária deve ser desenvolvida com todo o esforço possível e com a máxima dependência de Deus. Essa atitude requer desenvolvimento, e o consequente aprendizado também.
Um episódio das viagens missionárias do Apóstolo Paulo serviu de oportunidade para que ele ensinasse, pela própria experiência, o princípio da solidariedade como disciplina. Estando em Mileto, ao despedir-se dos anciãos da igreja de Éfeso, lembrou do seu compromisso com o Evangelho e da dedicação pessoal no cuidado com a igreja. Depois, usou o seu exemplo para encorajar os irmãos a trabalharem e ajudarem os necessitados:
“Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber” Atos 20:35).
A palavra traduzida como “trabalhando” neste texto significa “trabalho cansativo, até à exaustão”. A motivação do apóstolo era, além de não ser pesado para as igrejas locais, “socorrer os necessitados”, física e moralmente. Este mesmo princípio foi ensinado por carta aos efésios: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef 4:28). Existe, para Paulo, uma relação entre trabalho e generosidade; ou seja, o alvo é ajudar e, para alcançá-lo, recebemos de Deus a força para trabalhar.
Cada crente deve organizar sua agenda e seu orçamento de modo que possa ajudar sistematicamente pessoas necessitadas. Toda igreja local deve manter ministérios voltados para a assistência a estas pessoas. A solidariedade não pode depender do estado emocional nem da pressão social. Isso não significa a interdição da angústia, das lágrimas ou das orações. Devemos orar e chorar diante da tragédia que se abateu sobre o nosso país. Contudo, a atitude solidária não deve depender de mensagens das redes sociais ou de manchetes da mídia. A solidariedade exige tempo e dinheiro, atenção e sensibilidade. Solidariedade exige disciplina.
Pr. Petrônio Borges Jr.
Ministro de Formação Cristã
Primeira Igreja Batista em Divinópolis-MG