O autor aos Hebreus usou uma metáfora das competições atléticas do mundo greco-romano para comunicar sobre a vida na fé como uma corrida. Para ele, o cristão está cercado de “tão grande nuvem de testemunhas” (Hb. 12:1), uma multidão de outros fiéis que morreram pela fé ao longo da história. Cada crente deve, então, livrar-se do peso do pecado, que quer fasciná-lo, e manter a sua atenção totalmente em Jesus, fazendo d’Ele a sua única ambição. Assim, poderá não só suportar o sofrimento, como também alcançar a vitória, isto é, a plenitude da vida com Ele na eternidade: “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hb. 12:2a). O nosso foco espiritual deve ser mantido n’Aquele que tomou a iniciativa de salvar-nos (Hb. 2:10) e que também é responsável por aperfeiçoar-nos (Hb. 10:14).
Manter o olhar em Jesus purifica a visão e permite enxergar a realidade de quem somos: criados à imagem e semelhança de Deus, mas corrompidos irremediavelmente pelo pecado. Na redenção, ou seja, quando Deus nos comprou pelo sangue de Cristo (Hb. 9:11-12), a imago dei (imagem de Deus) foi restaurada e recebemos poder para vencer o pecado. A experiência da salvação, portanto, deve definir nossa dignidade e valor. A pessoa de Jesus e Seu chamado é o foco que nos leva a alcançar não apenas saúde emocional, mas também maturidade espiritual.
O pecado nos leva a perder o foco do nosso valor e dignidade, que independem de recursos materiais ou influência social. E faz mais: endurece nosso coração, tornando-o ingrato. Como não valorizamos a riqueza do que somos e temos, desejamos o que os outros são e possuem. Além disso, abandonamos o compromisso ético, o cuidado com o outro em sua singularidade e suas necessidades.
O fenômeno atual da superexposição nas redes sociais, quando abordado à luz das doutrinas do homem e do pecado, pode ser revelador nesse sentido. Tal atitude, cada vez mais comum, deve passar pelo crivo da consciência cristã. O que pode parecer apenas a velha mania de pensar que a grama do vizinho é mais verde ou que a fila ao lado anda mais rápido, pode ser chamado por outro nome: inveja. O invejoso, que é antes vaidoso, perde-se na arena da competição porque prioriza o status do outro no lugar do seu próprio crescimento. A vaidade, outro lado da moeda chamada inveja, pode impedir de enxergar que o despretensioso álbum de fotos digital, por exemplo, tirado do contexto, gerará mal testemunho e ofensa à consciência alheia.
A partir de uma visão bíblica, conseguimos perceber que a perda dos limites no acesso e compartilhamento de imagens nas mídias digitais apenas revela a ponta do iceberg. Quem navega sem controle pela hiperexposição, precisa avaliar se a motivação não tem sido a inveja e ou vaidade. Na maioria dos casos, não será necessário isolar-se digitalmente e, com isso, perder a oportunidade de comunicar-se com os amigos distantes ou mesmo propagar o Evangelho. Medidas mais drásticas assim serviriam apenas para um tempo de desintoxicação digital, para recuperar os limites.
De qualquer forma, seremos mais saudáveis e maduros somente quando nutrirmos diariamente a gratidão pelo que somos e temos em Cristo. E viveremos relacionamentos mais profundos e desinteressados. A visão espiritual correta sobre si e sobre o outro nos prevenirá contra a mediocridade de uma vida medida pelo sucesso dos outros e da perda de oportunidades para testemunhar da graça que recebemos pela fé. Para isso, devemos manter o foco em Jesus, o supremo campeão da corrida da fé, para imitarmos seu caráter e amor.
Pr. Petrônio Borges
Ministro de Formação Cristã