O Cristianismo moderno tem sido grandemente influenciado pela Reforma Protestante do século XVI. Esse complexo movimento congregou cristãos de diferentes origens, identificados por diferentes nomenclaturas, mas ligados por uma fé comum. Num período de exaustão da Idade Média, influenciado pelo Renascimento e marcado pela crise do Catolicismo medieval, várias vozes em defesa do cristianismo bíblico levantaram-se na Igreja Cristã. Logo perceberam que o retorno às Escrituras faria da tentativa de reforma uma ruptura com a Igreja Católica.
“Na Baixa Idade Média a igreja começou a enfrentar crises que prepararam o caminho para a Reforma. A primeira foi uma crise de autoridade: papas, cardeais e bispos viviam em pecados grosseiros. Por isso, a autoridade da igreja, nas pessoas do papa e do clero, foi desafiada. A segunda foi uma crise de salvação: as pessoas, na Idade Média, tinham pavor da morte e a doutrina sacramental não proporcionava nenhuma segurança para o cristão. E a terceira era uma crise de espiritualidade: a divisão medieval entre clero e laicato dominava toda a teologia prática nessa época. No entendimento da igreja, a única maneira de viver uma vida consagrada era se tornando um membro do clero” (FERREIRA, Franklin. Gigantes da Fé: espiritualidade e teologia na igreja cristã. São Paulo. Vida. 2006).
A ruptura com Roma foi iniciada pelos pré-reformadores, vidas identificadas com a agenda da Reforma Protestante, que gastaram-se pela pregação bíblica antes mesmo da efetivação da Reforma. Não podemos esquecer de John Wycliffe, Jan Huss, Tomás de Kempis e tantos outros que surgiram antes de Lutero, Calvino e Zuínglio. Assim também não devemos desconsiderar outros nomes valiosos da história evangélica que surgiram após a morte destes primeiros reformadores. Na verdade, comemora-se ilustrativamente a Reforma Protestante em 31 de Outubro, numa alusão às 95 teses de Martinho Lutero publicadas nesta data em 1517, mas a Reforma não deve ser entendida como um ato isolado em Wittenberg, na Alemanha, e Lutero não deve ser entendido como o criador da Reforma, até mesmo porque ele recebeu influência decisiva dos pré-reformadores.
O moto “Igreja reformada sempre se reformando”, utilizado pelo pregador holandês Gisbertus Voetius no século XVI, é um chamado para a Igreja de Cristo permanecer em reforma. Não uma mudança da fé, mas uma revisão constante da vida da Igreja, comparando-a com as Escrituras. Assim fizeram os batistas, liderados por John Smyth e Thomas Helwys nos primeiros anos do século XVII. Mantiveram-se em reforma e por isso mesmo romperam com a Igreja da Inglaterra, uma expressão do cristianismo evangélico que rejeitou a continuidade da reforma na vida da Igreja, sendo ainda hoje liderada pelo poder temporal.
Os batistas aceitaram as grandes verdades da Reforma e insistiram que o retorno às Escrituras deveria ser uma tarefa contínua para os cristãos. Por isso, levaram às últimas consequências o reconhecimento da Bíblia como única autoridade espiritual, acima de hierarquias e documentos eclesiásticos. Organizaram-se em torno do sacerdócio universal dos crentes, rejeitando qualquer clericalismo. Estabeleceram congregações autônomas, governadas pelos crentes regenerados em Cristo, completamente separadas do Estado. Rejeitaram qualquer ideia sacramental, ensinando que a salvação é pela graça somente. Decidiram batizar apenas aqueles que dessem sinais de arrependimento e conversão, após pública profissão de fé, o que se tornou uma rejeição ao batismo infantil.
Os batistas precisam viver em reforma. Os cristãos evangélicos genuínos precisam afastar-se de todo e qualquer modelo de Igreja que representa um retorno a Roma. É tempo de voltar a dizer que a salvação é pela graça mediante a fé somente, sem qualquer participação dos bens deste mundo. É tempo de voltar às Escrituras, tornando-a em verdadeira norma do culto cristocêntrico. É tempo de ganharmos o mundo para Cristo por meio do bom testemunho cristão. É tempo de vivermos para a glória de Deus!
Tarcísio Farias Guimarães, Pastor da PIB em Divinópolis (MG)