“Em Cristo” – a fonte da identidade cristã
Quem sou eu? Esta pergunta reflete a busca do homem por um significado para a própria existência. Longe de ser uma questão meramente abstrata, ela se impõe sobretudo diante do sofrimento. Cada pessoa se vê obrigada, em algum momento, a dar uma resposta consciente. Você está satisfeito consigo mesmo? Se pedissem para escrever agora a sua identidade em uma linha? Saber quem é, por que existe e qual o seu lugar no universo exigirá de você muito mais do que habilidade para escrever.
A confusão em torno da identidade tem aumentado ultimamente. A proposta da cultura atual é que o ser humano seja autossuficiente, centrado em si mesmo e autônomo. No entanto, mesmo mudando a aparência, a condição sexual ou a ideologia, permanece sem paz interior. A prova disso é o elevado número de suicídios, o uso abusivo de drogas e a violência crescente.
A reflexão sobre identidade deve começar pela questão da fonte. De onde recebemos a essência do nosso ser, qual a origem do nosso valor pessoal, do sentido para a vida, da razão de existir? Merval Rosa define identidade como o núcleo central do ser que é formado a partir dos relacionamentos significativos e se mantem preservado diante dos diversos papéis sociais. Identidade é a interpretação da própria singularidade diante do mundo. Saber que é único e afirmar-se diante das diferenças é ter uma identidade.
Mas este conceito pessoal é formado a partir da relação com o mundo. Como um ser social, relacional e aberto para o outro, o homem encontra sua própria identidade nos relacionamentos que desenvolve ao longo da vida. A começar pela família, como primeiro espaço de socialização, a pessoa humana segue sendo formada no convívio com outras pessoas. Contudo, nenhum desses relacionamentos, por mais influentes que sejam, podem servir de fonte para ninguém.
Deus se revelou nas Escrituras como a “Fonte das fontes”. Manifestou-se na história como um Deus pessoal em Jesus de Nazaré, seu Filho Eterno com quem partilha a essência do ser. No ensino de Jesus e dos apóstolos, aprendemos que a “união com Cristo” é a fonte da vida cristã. No relacionamento íntimo e contínuo com Cristo, o cristão encontra a essência da sua vida e pode afirmar sua identidade.
A expressão “Em Cristo”, que significa “em união de espírito com Cristo”, resume esta doutrina. Jesus, antecipando para os discípulos como seria a continuidade do relacionamento com eles após a separação física afirmou: “Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (JOÃO 15:5). Paulo, ensinando sobre a união espiritual do crente com o Senhor, lembra: “Mas, o que se une ao Senhor é um só espírito com Ele” (1 CORÍNTIOS 6:17). Esta união é possível pela habitação do Espírito de Cristo e sua obra na vida do crente. Esta é a certeza cantada por Paulo no hino que introduz sua carta aos Efésios: “tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para o louvor da Sua glória” (EFÉSIOS 1:13,14).
A identidade de uma pessoa é definida pelo fato de estar “fora de Cristo” ou “em Cristo”. Independente da condição econômica, da cor da pele, do nível educacional, do prestígio. Independente de recursos ou esforços, religiosos ou não. Independente das circunstâncias ou ameaças enfrentadas. Todo cristão tem a mesma identidade em Cristo. O cristão sabe quem é. Com relação a Deus, filho amado. Com relação ao próximo, membro do corpo de Cristo. Com relação a si mesmo, um pecador salvo pela graça.
Devemos afirmar esta identidade todos os dias através da prática devocional, conhecendo mais dessa união com Cristo pelo estudo da Bíblia e crescendo em intimidade pela oração. Desta forma estaremos preparados para responder diante da vida quem somos e que a nossa identidade não depende de nenhum bem, projeto ou pessoa, mas tem sua fonte “em Cristo”.
Pr. Petrônio Borges