Diante de uma sociedade confusa e dividida acerca do propósito da existência, que não sabe o que é viver com significado, a família cristã não pode se furtar ao desafio de proclamar e demonstrar que é possível uma vida ajustada ao chamado de Deus. Estamos cercados de pessoas que trocaram significado por sucesso e pensam que ganhar dinheiro ou ter um círculo amplo de influência pode responder ao porquê de estarem aqui neste mundo. Famílias que servem unicamente a Cristo, e não ao dinheiro ou à fama, por outro lado, sabem que somente o chamado de Deus é o “porquê final” para se viver; e essa razão de existir é o que dá sentido à vida.
Segundo os Evangelhos, o chamado de Jesus aos seus discípulos envolveu toda a vida na terra. Cada dia, até o último suspiro. Aquele chamado não poderia ser respondido de maneira parcial ou temporária. Jesus exigiu tudo deles. Ele havia sido revelado como o “Filho de Deus” com toda a autoridade sobre as pessoas, sobre a natureza e até sobre os demônios. Sua vontade era absoluta e quando Ele convocou homens e mulheres para si e para uma missão, não lhes restava uma alternativa de vida com significado e propósito a não ser a de deixarem tudo para o seguir.
O Senhor continua chamando cada um de nós, em nossas famílias, para uma comunhão íntima com Ele através da qual seremos modelados em um estilo de vida que torne possível a obediência radical que Ele exige. Este não é um chamado individual, mas de todo o povo de Deus constituído na cruz. Nunca conseguiremos viver o discipulado de Cristo de forma radical e profunda se não ajustarmos nossa rotina e a estrutura da nossa vida à dedicação que Ele exige em termos de tempo, talentos e recursos. O compromisso da família cristã diante do chamado de Deus não pode se restringir a uma esfera intimista e religiosa, mas deve ter consequências drásticas em todas as áreas do viver.
Qual será, então, o caminho para uma vida simples que reflita de forma adequada o nosso compromisso com o chamado que ouvimos? Jesus já respondeu a esta pergunta: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6:33). Esta é a chave para respondermos ao chamado de Deus e para uma vida simples: uma visão única, tão absorvida no Reino de Deus que as outras coisas pareçam insignificantes. Esta é a vida simples: uma vida interior marcada pela confiança e obediência a Deus que resulta em uma vida exterior livre diante da falsa espiritualidade, do materialismo e da ansiedade. A família que vive assim dispõe de tempo e de recursos para desfrutar da comunhão com Deus e com os irmãos, para servir a quem está próximo, para anunciar a esperança mesmo a quem está distante. Contudo, sem os ajustes exigidos pelo senhorio de Cristo, na agenda, no orçamento, nos relacionamentos, a família cristã será tentada a limitar-se a uma rotina religiosa que satisfaça apenas à expectativa social ou ao ego. Nunca experimentará a verdadeira liberdade de quem tem o caráter transformado e pode compartilhar livremente o amor que recebe de Deus.
Pr. Petronio Borges
Ministro de Formação Cristã