UMA REFORMA MAIOR QUE A REFORMA
Em 2017 comemora-se por todo o mundo os 500 anos de publicação das 95 teses de Martinho Lutero, em Wittenberg, na Alemanha. Esse evento deve ser celebrado e estudado pelos cristãos da atualidade que, assim como Lutero, precisam reafirmar a centralidade das Escrituras Sagradas na fé e na prática cristãs. O acontecimento especial de 31 de Outubro de 1517 foi, e ainda é, valioso para nos lembrar que “ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” (I CORÍNTIOS 3:11)
Numa época em que as experiências pessoais são, por vezes, mais valorizadas do que aquilo que é apresentado pela Palavra de Deus, é importante revisitar a seguinte afirmação de Lutero: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias”. Essa convicção exposta com segurança pelo ex-monge agostiniano é anterior a ele mesmo, pois, desde que Constantino promoveu a unificação entre Estado e Igreja no século IV D.C., sempre existiram cristãos fiéis às Escrituras Sagradas, inconformados com o sistema católico e sua insistente fabricação de crendices religiosas.
William Lane destaca que “a Reforma Protestante do século XVI, em síntese, tratou de três questões fundamentais: Jesus é o supremo cabeça da Igreja (contra a autoridade papal); a Bíblia como Palavra de Deus é autoridade sobre o cristão (contra a tradição); e a salvação é pela fé (contra as indulgências). Tais verdades foram proclamadas por indivíduos e grupos cristãos minoritários que não conheceram Lutero, todavia foram conhecidos por Lutero na medida em que suas pregações e seus escritos não morreram no papel e na memória dos cristãos que vivenciaram o árido contexto espiritual da Idade Média.
Alguns exemplos daqueles que são chamados de pré-reformadores são notáveis. Tinham em comum a submissão exclusiva a Jesus Cristo e a busca pela verdade na Bíblia. John Wycliffe morreu na Inglaterra em 1384, sob a acusação de heresia. Jan Hus foi queimado vivo na Suíça em 1414, por professar a fé evangélica. Paul Craw foi queimado vivo na Escócia em 1433, numa condição semelhante aos nomes anteriormente citados. Todos esses morreram pelos ideias que seriam abraçados na Reforma Protestante.
Nós, os batistas, surgimos como igreja local organizada em 1609, na Inglaterra, quando nos separamos da Igreja Anglicana e suas tradições carentes de base bíblica: sujeição ao poder temporal, sacramentalismo, clericalismo, batismo de recém-nascidos e perseguição aos grupos cristãos minoritários, dentre outras ideias e práticas que não encontram confirmação nas Sagradas Escrituras e representam a continuidade da crença católico-romana. Assim também, outros grupos evangélicos surgiriam nos séculos seguintes com o interesse de observar fielmente a revelação escriturística.
A Reforma Evangélica, isto é, centrada no Evangelho de Jesus Cristo, é maior que o movimento denominado Reforma Protestante. Essa Reforma tem sido maior do que os grandes nomes da história protestante, a exemplo do respeitável teólogo Martinho Lutero. É uma Reforma que ultrapassou as fronteiras da Alemanha nos dias de Lutero. É anterior e posterior ao século XVI, portanto, pode ser identificada com todos os cristãos que, em todas as épocas e lugares, têm amado Cristo e sua Palavra acima de autoridades humanas e tradições igualmente criadas por homens.
Pr. Tarcísio Farias Guimarães