A vida cristã é uma conexão espiritual com Cristo que nasce na conversão e se desenvolve como um relacionamento íntimo e contínuo com Ele. Conectados com Cristo, buscamos conhecimento e desenvolvemos habilidades. A comunhão com o Cristo Vivo, que habita em nós pelo Espírito Santo, ultrapassa os limites dos nossos esforços, muito embora exija de nós um compromisso total. Sendo assim, como podemos definir os papeis da Bíblia e do Discipulado na vida cristã?
A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana escrita que revela suficientemente a Palavra Encarnada, Jesus Cristo, a revelação final de Deus. Pensando biblicamente, o estudo e a prática da Bíblia sem um relacionamento pessoal com Jesus é incapaz de produzir vida espiritual. Jesus confrontou os estudiosos da Bíblia de seu tempo denunciando a rejeição deles ao seu ministério: Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5:39-40). Eles estudavam a Bíblia com o objetivo de alcançarem a vida espiritual, mas rejeitaram a fonte da vida eterna que estava diante deles. Aqui reside o perigo da “bibliolatria” ou a idolatria da Bíblia, quando a Bíblia deixa de ser uma providência de Deus para que conheçamos e vivamos a comunhão com Jesus e se torna o alvo da nossa devoção.
O discipulado, por outro lado, é o relacionamento de um discípulo com outro mais maduro, o discipulador, para que, lado a lado, desenvolvam a maturidade cristã, ou seja, reproduzam e multipliquem o caráter de Cristo. Mas, há um perigo sutil que deve ser levado em conta: qualquer sistema de discipulado baseado apenas no princípio da imitação e da prestação de contas corre o risco de concentrar a atenção e os esforços na pessoa do discipulador e não de Cristo. O discípulo que inicia a jornada com esta visão limitada poderá, por admiração ou lealdade, desviar o foco da presença de Jesus em si. Muitos chegam a cometer a heresia de ensinar o que chamam de “cobertura espiritual”, que seria o poder supostamente conferido por Jesus para que líderes protejam e dirijam a vida dos novos discípulos. Mas, como ensinou o apóstolo João: “E vós já possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento” (1Jo 2:20).
Por nossa conexão espiritual com Jesus desde o momento em que cremos nEle como Senhor e Salvador, e pela prática da oração, que aprofunda e desenvolve a vida cristã, devemos estabelecer os lugares da Bíblia e do Discipulado. A Bíblia deve ser estudada para que “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo” (Cl 3:16). O Discipulado deve ser praticado “até ser Cristo formado em vós” (Gl 4:19). Estas definições de papéis saíram da pena do Apóstolo Paulo, inspirado para escrever que a essência da vida cristã é a conexão de “Vida na vida”, a Vida de Cristo na vida do discípulo, iluminada pelo estudo bíblico e o testemunho cristão: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2:20).
Pr. Petrônio Borges
Ministro Formação Cristã