VITÓRIA SOBRE O LEGALISMO

Uma das características distintivas dos cristãos evangélicos é a salvação pela graça recebida pela fé somente. Contudo, muitos crentes abandonam ainda cedo esta certeza e procuram experimentar a santificação pelos seus próprios esforços e pelo cumprimento de regras de conduta impostas por determinada igreja local ou denominação. O outro nome que pode ser dado a isso é “legalismo evangélico”.

O legalismo não é um erro no cristianismo, chega a ser outra religião. E o pior: o fascínio inicial que ele provoca pela possibilidade de produção de alguma justiça própria revela-se depois em engano; o legalista descobre, então, que a religião por ele inventada ou da qual tornou-se adepto, em vez de fazê-lo progredir em santidade, conduz velozmente ao esgotamento ou à hipocrisia.

Paulo combatia a escravidão do legalismo quando escreveu aos gálatas. Em sua defesa da liberdade cristã e do próprio apostolado, confrontou os judaizantes, líderes cristãos que queriam impor os rituais e práticas do judaísmo para os crentes gentios. O ensino paulino afirma que a lei conduz à fé em Cristo e que esta é a base tanto para a justificação quanto para a santificação (Gl. 2:19-21). A maldição da lei já havia sido removida e, agora, tanto judeus quanto gentios podiam desfrutar de uma nova vida marcada pela liberdade de servir a Cristo (Gl. 3:13).

Foi então que Paulo afirmou o que mais tarde veio a ser desenvolvido na sua epístola aos romanos: “Estou crucificado com Cristo, logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl. 2:19b-20a). Estar crucificado com Cristo significa ser um co-crucificado, incorporado com Cristo na Sua cruz. Cristo é o agente com o qual Paulo foi crucificado e Paulo permanecia crucificado quando escreveu, 14 ou 17 anos depois da conversão. Somente assim foi possível dizer que agora Cristo já vivia nele e ele em Cristo.

                Deus nos vê como se estivéssemos no Calvário há 2000 anos. Permanecemos crucificados com Cristo depois de crermos, confessarmos e termos sido unidos a Ele pela fé. Desde então passamos a viver pela fé no Crucificado. A vida cristã se mantém pelo poder da vida de Cristo em nós, recebido pela continuação do ato de fé exercido no início da união com Ele.

O propósito desta união com Cristo é tornar possível uma vida santificada e vitoriosa sobre o pecado e o mal, que reflita a Sua glória. Quando chama os discípulos para tomarem juntamente com Ele a cruz de cada dia, não o faz sem antes garantir que Ele mesmo fornecerá o poder suficiente para tal. Por isso, o imperativo do chamado ao discipulado exige primeiro o esvaziamento: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo” (Lc 9:23). E não existe outro caminho para isso, a não ser o arrependimento. Na primeira das suas 95 teses, Martinho Lutero lembra que “Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: “Arrependei-vos…” (Mateus 4:17) certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento”.

                Assim como os crentes da Galácia, muitos evangélicos hoje se rendem ao fascínio do legalismo e revelam orgulho ao tentarem produzir justiça própria. Para vencermos o legalismo, precisamos renovar diariamente a decisão de tomar a cruz e negar-nos a nós mesmos, esvaziando-nos de pensamentos e influências do mundo. Para vencermos o legalismo, devemos buscar uma comunhão íntima e contínua com Cristo pelo Espírito Santo, especialmente através de oração e estudo bíblico. Para vencer o legalismo, leve-o junto com o próprio ego até à cruz e deixe-os lá todos os dias!

Pr. Petrônio Borges